Hoje, discutirei um pouco sobre o movimento Arts and Crafts, que surgiu na segunda metade do século XIX e posteriormente influenciou e veio a influenciar até hoje os campos da arte, design e arquitetura. Não apenas um movimento, mas uma filosofia. Seus ideais consistiam em aproximar elementos decorativos ao nível de belas artes, direcionando cada projeto a um publico muito específico. Em teoria, a ideia era tornar estes produtos e serviços mais acessíveis, o que na pratica, não ocorria bem assim.
A Revolução Industrial foi um divisor de águas na história da sociedade, e em contrapartida, o movimento Artes e Ofícios veio remando na contramão em resposta aos produtos de grandes produções industriais e sua qualidade questionável. Toda essa produção em massa, aos poucos começou a extinguir com os trabalhos artesanais tal como a personalidade dos produtos. Os valores e identidade inglesa estavam se perdendo em meio engrenagens e fumaça.
Os criadores do movimento
Foi Augustus W. Pugin (1812-1852) o primeiro a criar uma linha de pensamento oposta em meio ao crescimento desenfreado da industrialização. Ele queria resgatar e unificar as funções de artista e artesão. Para isso criou três regras básicas para serem seguidas na arquitetura, eram elas: a honestidade no uso e aplicação de materiais; a originalidade do projeto e o uso de materiais regionais preservando suas características.
O professor e crítico inglês John Ruskin (1819-1900) foi inspirado por Pugin e se tornou um dos percussores deste movimento. Ele questionava justamente toda a organização de trabalho modernos da época que, ao almejar a quantidade, deixavam a desejar na qualidade e principalmente na falta de estilo nos campos do design. Para conseguir colocar no mercado produtos cada vez mais baratos, a produção se tornara muito automatizada operada por trabalhadores com pouca instrução ( aqui no Brasil, de vez em quando é possível achar produtos frutos desse tipo de raciocínio…). Em vista disso, Ruskin defende a mão de obra artesanal e a utilização de matéria prima natural, além do bem estar e preparo do trabalhador. Em seu livro As Pedras de Veneza, ele enfatiza a busca por inspiração na natureza.
O legado do movimento inglês
Mas, fora William Morris (1834-1896) quem iria colocar em prática todos estes ideais e dar vida ao movimento Arts and Crafts. Junto a alguns amigos, em meados de 1861, criou uma firma, que produzia todo tipo de objetos de decoração, tais como móveis, tecidos, tapetes, azulejos, vitrais e papeis de parede por exemplo. Antes de mais nada, sua principal estratégia era manter a alta qualidade e o bom gosto em seus produtos. Sobretudo, Morris buscava inspiração no período medieval e criava projetos simplificados e naturalistas que de certa forma traziam algum significado para o usuário.
Posteriormente dissolveu a sociedade e criou sua própria empresa, a Morris e Company. Nela, muitas vezes buscava participar de todas as etapas desde o projeto, à produção e pós venda, conforme era possível devido a demanda moderada. Por se tratar de algo tão exclusivo e artesanal, o custo final se tornava elevado, como resultado, os produtos acabavam atingindo somente a alta sociedade da época. Logo, este resultado estava sendo contrário a um dos princípios citados no primeiro parágrafo. Aliás, Morris também chegou a criar sua própria gráfica, a Kelmscott, onde aplicava os preceitos do movimento.
Nesse período surgiram diversos produtores na Inglaterra engajados no movimento, eventualmente criaram as chamadas guildas de artesãos. No Brasil ele não chegou ter muito impacto, pois na época ainda faltava mão de obra qualificada. Assim sendo, o Arts and Crafts teve seu fim algumas décadas mais tarde. Apesar de possuir nobres princípios, sua produção era um tanto quanto limitada e o preço de venda não muito amigável, não conseguiam competir com a larga escala da crescente expansão industrial. Todavia este movimento serviu como base para a criação de muitos outros posteriormente ( como o Art Nouveau por exemplo) além de criar inúmeras fundamentações que ajudaram a estruturar o design como conhecemos hoje.
Referências:
ARTS, O. MOVIMENTO INGLÊS, and CRAFTS E. A. ARQUITETURA NORTE-AMERICANA. “O movimento inglês Arts and Crafts“, 2007.
Cardoso, Rafael. Uma introdução à história do design. Editora Blucher, 2008.