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Os 3 níveis de design

No mundo do design não é muito difícil encontrar teorias e outras representações esquemáticas formadas por três aspectos importantes, como por exemplo no livro Tríades do Design de Frederico Braida e Vera Lucia Nojima. Já falei aqui sobre semiótica e como ela está relacionada com o nosso dia a dia, e dentro deste campo, Charles Sanders Peirce, nos mostra os três níveis de percepção sob o olhar da semiótica, são elas a primeiridade, secondidade e terceiridade. Não vamos esquecer das funções estéticas, práticas e simbólicas!

Hoje falaremos um pouco sobre os três níveis de percepção do design listados por Don Norman em seu livro design do dia a dia. Estes por sua vez são descritos por um ponto de vista que diz respeito diretamente ao design. Logo são importantes pontos a serem observados ao se projetar algo ou imaginar uma nova ideia. Sobretudo, como o próprio Norman diz, isso implica diretamente no fato de adorarmos ou odiarmos os objetos que costumamos lidar em nossa vida cotidiana.

Nível visceral

O primeiro deles é o nível visceral que diz respeito diretamente à aparência das coisas, o quão elas foram feitas para chamar a atenção. A sua essência está na natureza, a fonte de soluções de design perfeita. A natureza se adapta pra cumprir determinadas funções, para os seres presentes no ambiente interagirem da maneira que ela deseja. Como por exemplo a forma, a cor e o cheiro das frutas, que são atrativos para que os animais as possam consumir e assim além de se nutrir, poder espalhar as sementes da árvore; Ou no caso de pássaros machos que possuem plumagens coloridas e chamativas que usam ao seu favor para impressionar as fêmeas. Nós seres humanos, como seres pensantes, aprendemos a selecionar o que nos agrada, mesmo que biologicamente tenhamos sido programados para odiar aquilo (como gostos amargos por exemplo).

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Todo este gosto, não só por sabor mas também pelo som, cor, forma ou textura (elementos pertinentes ao design visceral) podem variar de cultura para cultura. Cabe ao designer identificar estas características culturais e aplicá-las em seus projetos da maneira mais estratégica possível. É claro, tudo isso irá depender do objetivo final do projeto. Existem aspectos que são preferências unânimes no senso comum (como a sensualidade por exemplo), isso ajuda fazer criações duradouras, que ultrapassam os limites do modismo. Design é comunicação, e no nível visceral é onde causamos a primeira impressão, onde poderá ser despertado o desejo do observador em possuir o objeto em questão.

Nível comportamental

Logo em seguida temos o nível comportamental, que, como o próprio nome já diz está relacionado ao comportamento, mais precisamente na forma de uso. Neste nível, a função está acima da estética, o que vale mesmo é o bom desempenho do objeto. Segundo Don Norman, os princípios de bom design aqui são a funcionalidade, a compreensibilidade, a usabilidade e a sensação física. Afinal pra que o produto serve? Ele cumpre bem esse papel? Do que a adianta uma câmera que não fotografa ou um processador de alimentos que não processa? O objeto deve oferecer características que facilitem a execução de determinada tarefa da maneira mais simples possível, este é o básico. Explorando um pouco mais a capacidade do design, temos objetos que não só cumprem sua função básica, como proporcionam uma experiência prazerosa para o usuário, como um toque agradável no manuseio ou uma economia de tempo.

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Criar soluções para as necessidades das pessoas pode ser mais complexo do que parece, afinal na maioria das vezes as pessoas sabem o que querem, mas não sabem o que precisam. Para um re-design ou aperfeiçoamento de algo existente é comum observar o uso e perceber as carências para projetar novas soluções. Mas, e quando o produto específico ainda não existe? Eis aqui o desafio, e assim temos a inovação. Aqui, o designer precisa ter um olhar apurado, ser um bom observador a fim de identificar estas necessidades, na maioria não percebida por nós, quando estamos acostumados e ocupados em nossas tarefas corriqueiras.

Nível reflexivo

Na introdução eu meio que fiz uma comparação com os princípios semióticos Peircianos. Seguindo a ordem lógica, o nível reflexivo seria o equivalente à terceiridade. Afinal, este nível diz respeito ao significado de uma uma maneira mais profunda, que se relaciona diretamente à cultura do observador. Essa cultura determina a forma na qual a mensagem ou o objeto será recebida e interpretada. Quais as sensações aquilo irá causar? Isso irá depender daquela bagagem cultural trazida pelo observador, na qual ele acumulou por toda sua vida, pelos meios sociais onde vive, grupos sociais na qual interage, mídia, informação e conhecimento que consome. O que nos faz lembrar que, as pessoas possuem princípios, estes que por sua vez nos mostra que, a aparência importa.

pexels andrea piacquadio 3989923 - Os 3 níveis de design

Costumamos nos preocupar com a imagem que apresentamos aos outros ou a nós mesmos. É aqui onde os níveis viscerais e reflexivos se encontram, segundo Don Norman a atratividade diz respeito ao nível visceral de design, enquanto a beleza será percebida apenas pelo nível reflexivo. Levando em conta os aspectos culturais, fica fácil entender o porquê de existirem padrões diferentes de beleza tão distintos ao redor do mundo. No que se refere a produto, é importante que o universo a qual aquele produto está imerso, deixe boas impressões e sobretudo boas experiências, seja no uso, na embalagem, no pós-venda. Mesmo que as pessoas tenham algum tipo de experiência negativa, é possível que os pontos positivos possam se sobressair em relação à esta. Como por exemplo, um excelente atendimento e prestatividade de uma empresa na reposição de uma peça defeituosa.

Bibliografia:

NORMAN, A. Donald. Design Emocional (Emotional Design – Why We Love or Hate Everyday Things 2004). Rio de Janeiro: Rocco, 2008.